ATIVIDADES DE LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTOS - CRÔNICAS DIVERSAS
Conversa de pai e filha (Antônio Maria)
– Pai, eu tenho um namorado.
Pai, que ouve isso da filha mocinha,
pela primeira vez, sente uma dor muito grande. Todo sangue lhe sobe à cabeça, e
o chão do mundo roda sob seus pés. Ele pensava, até então, que só a filha dos
outros tinha namorado. A sua tem, também. Um namorado presunçosamente homem,
sem coração e sem ternura. Um rapazola, banal, que dominará sua filha. Que a
beijará no cinema e lhe sentirá o corpo, no enleio da dança. Que lhe fará
ciúmes de lágrimas e revolta; pior ainda, de submissão, enganando-a com outras
mocinhas. Que, quando sentir os seus ciúmes, com toda certeza, lhe dirá o nome
feio e, possivelmente, lhe torcerá o braço. E ela chorará, porque o braço lhe
doerá. Mas ela o perdoará no mesmo momento ou, quem sabe, não chegará, sequer,
a odiá-lo. E lhe dirá, com o braço doendo ainda: “Gosto de você, mais que de
tudo, só de você.” Mais que de tudo e mais que dele, o pai, que nunca lhe
torceu o braço. Só de você é não gostar dele, o pai. E pensará, o pai, que esse
porcaria de rapaz fará a filha mocinha beber whisky, e ela, que é
mocinha, ficará tonta, com o estômago às voltas. Mas terá que sorrir. E tudo o
que conseguir dela será, somente, para contar aos amigos, com quem permuta as
gabolices sobre suas namoradas. Ah! O pai se toma da imensa vontade de
abraçar-se à filha mocinha e pedir-lhe que não seja de ninguém. De abraçá-la e
rogar a Deus que os mate, aos dois, assim, abraçados, ali mesmo, antes que
torça o bracinho da filha. Como é absurda e egoisticamente irracional amor de
pai! Mais que ódio de fera. Ele sabe disso e se sente um coitado. Embora sem
evitar que todos esses medos, iras e zelos passem por sua cabeça, tem que saber
que sua filha é igual à filha dos outros; e, como a filha dos outros, será
beijada na boca. Ele, o pai, beijou a filha dos outros. Disse-lhe, com ciúme, o
nome feio. E torceu-lhe o braço, até doer. Nunca pensou que sua namorada fosse
filha de ninguém. Ele, o pai, humanamente lamentável, lamentavelmente humano.
Ele, o pai, tem, agora, que olhar a filha com o maior de todos os carinhos e
sorrir-lhe um sorriso completo de bem-querer, para que ela, em nenhum momento,
sinta que está sendo perdoada. Protegida, sim. Amada, muito mais. E, quando ela
repetir que tem um namorado, dizer-lhe apenas:
– Queira bem a ele, minha filha.
Título da crônica: Conversa de
pai e filha (Antônio Maria)
1- Que assunto do cotidiano é abordado na
crônica Conversa de pai e filha, de Antônio Maria?
2- O que o pai quer dizer quando afirma “Todo
sangue lhe sobe à cabeça, e o chão do mundo roda sob seus pés”?
3- Assinale a alternativa que apresenta uma
reflexão possível a partir da leitura da crônica de Antônio Maria.
a) Em seu texto, o cronista mostra que a postura
possessiva de alguns pais em relação às suas filhas (quanto aos relacionamentos
amorosos) parece desconsiderar o fato de que esses pais também já estiveram na
posição de namorados.
b) Na crônica de Antônio Maria, a figura que se
coloca como pai pretende proporcionar uma reflexão sobre os riscos de uma
gravidez na adolescência/juventude.
c) O texto de Antônio Maria tem o objetivo de fazer
o leitor refletir sobre a violência física que as mulheres constantemente
sofrem em seus relacionamentos amorosos.
d) A crônica lida deixa clara a ideia de que muitos
dos problemas vivenciados em um namoro na juventude/adolescência se devem à
falta de diálogo entre pai e filha.
4- Qual o significado mais adequado para a
expressão “permutar gabolices”, no texto? Assinale a alternativa correta.
a) Partilhar com a namorada e com os amigos os bons
momentos da vida.
b) Tratar os amigos com grosseria e brutalidade, da
mesma forma que costuma tratar a namorada.
c) Zombar dos amigos que não têm namorada ou
ridicularizá-los.
d) Partilhar com os amigos momentos vividos com a
namorada, com o objetivo de se gabar ou se engrandecer.
5- No decorrer da leitura percebemos que o pai muda
de opinião em relação ao assunto abordado no texto. Por que essa mudança de
pensamento acontece?
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Conto de Natal (Rubem Braga)
Sem dizer uma palavra, o homem deixou a
estrada, andou alguns metros no pasto e se deteve um instante diante da cerca
de arame farpado. A mulher seguiu-o sem compreender, puxando pela mão o menino
de seis anos.
— Que é?
O homem apontou uma árvore do outro
lado da cerca. Curvou-se, afastou dois fios de arame e passou. O menino preferiu
passar deitado, mas uma ponta de arame o segurou pela camisa. O pai agachou-se
zangado:
— Porcaria…
Tirou o espinho de arame da camisinha
de algodão e o moleque escorregou para o outro lado. Agora era preciso passar a
mulher. O homem olhou-a um momento do outro lado da cerca e procurou depois com
os olhos um lugar em que houvesse um arame arrebentado ou dois fios mais
afastados.
— Pera aí…
Andou para um lado e outro e afinal
chamou a mulher. Ela foi devagar, o suor correndo pela cara mulata, os passos
lerdos sob a enorme barriga de 8 ou 9 meses.
— Vamos ver aqui…
Com esforço ele afrouxou o arame do
meio e puxou-o para cima. Com o dedo grande do pé fez descer bastante o de
baixo.
Ela curvou-se e fez um esforço para
erguer a perna direita e passá-la para o outro lado da cerca. Mas caiu sentada
num torrão de cupim.
— Mulher!
Passando os braços para o outro lado da
cerca o homem ajudou-a a levantar-se. Depois passou a mão pela testa e pelo
cabelo empapado de suor.
— Pera aí…
Arranjou afinal um lugar melhor, e a
mulher passou de quatro, com dificuldade. Caminharam até a árvore, a única que
havia no pasto, e sentaram-se no chão, à sombra, calados.
O sol ardia sobre o pasto maltratado e
secava os lameirões da estrada torta. O calor abafava, e não havia nem um sopro
de brisa para mexer uma folha.
De tardinha seguiram caminho, e ele
calculou que deviam faltar umas duas léguas e meia para a fazenda da Boa Vista
quando ela disse que não aguentava mais andar. E pensou em voltar até o sítio
de “seu” Anacleto.
— Não…
Ficaram parados os três, sem saber o
que fazer, quando começaram a cair uns pingos grossos de chuva. O menino
choramingava.
— Eh, mulher…
Ela não podia andar e passava a mão
pela barriga enorme. Ouviram então o guincho de um carro de bois.
— Ó, graças a Deus…
Às 7 horas da noite, chegaram com os
trapos encharcados de chuva a uma fazendinha. O temporal pegou-os na estrada e
entre os trovões e os relâmpagos a mulher dava gritos de dor.
— Vai ser hoje, Faustino, Deus me
acuda, vai ser hoje.
O carreiro morava numa casinha de sapé,
do outro lado da várzea. A casa do fazendeiro estava fechada, pois o capitão
tinha ido para a cidade há dois dias.
— Eu acho que o jeito…
O carreiro apontou a estrebaria. A
pequena família se arranjou lá de qualquer jeito junto de uma vaca e um burro.
No dia seguinte de manhã o carreiro
voltou. Disse que tinha ido pedir uma ajuda de noite na casa de “siá” Tomásia,
mas “siá” Tomásia tinha ido à festa na Fazenda de Santo Antônio. E ele não
tinha nem querosene para uma lamparina, mesmo se tivesse não sabia ajudar nada.
Trazia quatro broas velhas e uma lata com café.
Faustino agradeceu a boa vontade. O
menino tinha nascido. O carreiro deu uma espiada, mas não se via nem a cara do
bichinho que estava embrulhado nuns trapos sobre um monte de capim cortado, ao
lado da mãe adormecida.
— Eu de lá ouvi os gritos. Ó Natal
desgraçado!
— Natal?
Com a pergunta de Faustino a mulher
acordou.
— Olhe, mulher, hoje é dia de Natal. Eu
nem me lembrava…
Ela fez um sinal com a cabeça: sabia.
Faustino de repente riu. Há muitos dias não ria, desde que tivera a questão com
o Coronel Desidério que acabara mandando embora ele e mais dois colonos. Riu
muito, mostrando os dentes pretos de fumo:
— Eh, mulher, então “vamo” botar o nome
de Jesus Cristo!
A mulher não achou graça. Fez uma
careta e penosamente voltou a cabeça para um lado, cerrando os olhos. O menino
de seis anos tentava comer a broa dura e estava mexendo no embrulho de trapos:
— Eh, pai, vem vê…
— Uai! Pera aí…
O menino Jesus Cristo estava morto.
Dezembro, 1948.
Título da crônica: Conto de Natal
Conto e crônica são gêneros textuais diferentes.
Embora o texto de Rubem Braga seja intitulado Conto de Natal, ele é
considerado uma crônica. Sabendo disso, responda às questões abaixo.
1- Qual é o principal fato narrado na crônica lida?
Resuma-o.
2- Quando a mulher diz “Vai ser hoje, Faustino,
Deus me acuda, vai ser hoje”, ela está falando de quê?
3- Assinale a alternativa que apresenta uma
reflexão possível a partir da leitura da crônica de Rubem Braga.
a) Embora aborde questões importantes, como a
pobreza na sociedade, o texto não permite uma reflexão sobre assuntos que podem
ser a causa das desigualdades sociais, como o desemprego.
b) O autor nos mostra com a história narrada na
crônica que, apesar das dificuldades enfrentadas por tantas pessoas na
sociedade, é possível ter um natal feliz.
c) A partir da história narrada, o cronista nos
revela que o verdadeiro sentido do natal parece ainda não ter sido compreendido
em uma sociedade marcada por desigualdades e por desprezo diante do sofrimento do
outro.
d) Apesar de apresentar uma forte crítica social, o
humor é o foco do texto. Esse humor é percebido no fato de o pai notar uma
semelhança entre a história de sua família com a de outra, o que, inclusive,
deu-lhe ideia para o nome do bebê.
4- Qual o significado mais adequado para a palavra
“carreiro” em seu uso no texto? Assinale a alternativa correta.
a) Indivíduo que cuida de uma fazenda.
b) Lugar por onde habitualmente passam os animais
de caça.
c) Caminho nas plantações (o mesmo que “carreira”).
d) Indivíduo que conduz carro de bois.
5- A partir da leitura da crônica de Rubem Braga,
percebemos que outros textos conhecidos parecem se ligar de alguma forma a essa
história. Cite-os.
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A última crônica (Fernando Sabino)
A caminho de casa, entro num botequim
da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o
momento de escrever.
A perspectiva me assusta. Gostaria de
estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do
irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária
algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais
digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição
do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança
ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do
essencial. Sem nada mais para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto
o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último
poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de
mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim, um casal de
pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede
de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras,
deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na
cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal
ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao
redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição
tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para
algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de
contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom,
inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sobre
a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se
aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e
depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a
reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom
encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo
com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma
pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa,
olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por
que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à
mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante,
retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos e espera. A filha
aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de
mim.
São três velinhas brancas, minúsculas,
que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a
coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a
menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas.
Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio,
a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”
Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra
finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está
olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o
farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim,
satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De
súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba,
constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e
enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última
crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Título da crônica: A última
crônica (Fernando Sabino)
1- Que cena do cotidiano o cronista escolheu para
relatar em seu texto?
2- O que o cronista quer dizer com a expressão “seres
esquivos”?
3- Assinale a alternativa que apresenta uma
reflexão que não é possível a partir da leitura da crônica de
Fernando Sabino.
a) Embora o autor não escreva o texto com essa
intenção, é possível discutir sobre a questão do preconceito a partir da
crônica de Fernando Sabino, pois o narrador se mostra um tanto preconceituoso
em alguns trechos.
b) No texto, o autor tenta mostrar ao leitor a
dificuldade enfrentada para encontrar assuntos cotidianos interessantes, o que
o levou a produzir a última crônica de sua vida.
c) A partir da leitura da crônica de Fernando
Sabino, é possível refletir acerca do processo de escrita de crônicas, pois o
autor aborda algumas características do gênero, incluindo os tipos de assuntos
que interessam a um cronista.
d) A leitura da crônica de Fernando Sabino pode
proporcionar uma reflexão sobre a possibilidade de ser feliz na vida, mesmo não
tendo tantas condições financeiras.
4- O cronista diz que busca o “pitoresco” ou
“irrisório” no cotidiano das pessoas para abordar em sua crônica. No texto,
qual o significado mais adequado para esses adjetivos? Assinale a alternativa
correta.
a) Algo que mostre preconceito na sociedade ou algo
que provoque riso, respectivamente.
b) Algo que seja digno de ser retratado em uma crônica
ou algo aparentemente sem importância, respectivamente.
c) Algo que anime as pessoas ou algo que cause um
impacto, respectivamente.
d) Algo que merece ser retratado em uma crônica ou
algo que faz chorar, respectivamente.
5- Na história narrada pelo cronista, que ocasião
parece estar sendo festejada?
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O milagre das folhas (Clarice Lispector)
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço
falar, e às vezes isso me basta como esperança. Mas também me revolta: por que
não a mim? Por que só de ouvir falar? Pois já cheguei a ouvir conversas assim,
sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de
estimação se quebraria.” Meus objetos se quebram banalmente e pelas mãos das
empregadas. Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que
rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os quais os seixos já vêm
prontos, polidos e brancos. Bem que tenho visões fugitivas antes de adormecer –
seria milagre? Mas já me foi tranquilamente explicado que isso até nome tem:
cidetismo, capacidade de projetar no campo alucinatório as imagens
inconscientes.
Milagre, não. Mas as coincidências.
Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no
cruzamento formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais
é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre
das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos
cabelos. A incidência da linha de milhões de folhas transformadas em uma única,
e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece
tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas.
Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais
diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a
folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como
lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios.
Achei Deus de uma grande delicadeza.
Título da crônica: O milagre
das folhas (Clarice Lispector)
1- Em poucas linhas, escreva um resumo sobre o que
a cronista aborda em seu texto.
2- Assinale a alternativa que apresenta uma palavra
que poderia substituir, de maneira adequada, o termo “banalmente”, empregado no
primeiro parágrafo da crônica.
a)
raramente
b)
frequentemente
c) intencionalmente
d) propositalmente
3- No terceiro parágrafo do texto, a que se refere
a palavra “isso” empregada pela autora?
4- Assinale a alternativa que apresenta uma
reflexão possível a partir da leitura da crônica de Clarice Lispector.
a) Com a leitura do texto de Clarice Lispector,
percebemos que o fenômeno dos milagres só é possível para as pessoas que estão
intimamente ligadas a uma religião.
b) A partir da crônica “O milagre das folhas”,
podemos perceber que a revolta de muitas pessoas contra um ser divino está
ligada ao fato de saberem que não são dignas de receber milagres.
c) O texto de Clarice Lispector pode nos
proporcionar uma reflexão sobre o fato de que, muitas vezes, pequenas coisas
que nos acontecem já são verdadeiros milagres e nem nos damos conta disso.
d) É possível, a partir da leitura da crônica,
refletir sobre o fato de que nem todas as pessoas são dignas de receber
milagres vindos de divindades.
5- No decorrer da leitura, percebemos que a
cronista muda de opinião em relação ao acontecimento de milagres em sua vida.
Por que motivo ela mudou seu pensamento sobre isso?
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Essa mocidade de hoje... (Marcos Rey)
Realmente, não está fácil educar filhos
hoje em dia. Não ouvem nossos conselhos e seguem caminhos estranhos, geralmente
perigosos. Coisas do fim de século, explicam. Meu filho mais velho, por
exemplo. Deu de cheirar. Não entendo onde pegou esse vício
terrível. Acredito que foi na leitura de velhos romances portugueses, ele que
é um apaixonado por primeiras edições.
Minha mulher o defende. Diz que não
faz mal. Brigamos muito por causa disso. Um cunhado, médico, também
assegura que não prejudica a saúde. É quando muito um mal social, insiste. Pode
até ser, concordo, afinal, milhares de jovens estão fazendo o mesmo em todo o
mundo, mas quem aguenta uma pessoa espirrando o tempo todo? Até
nas igrejas ele abre sua caixa (que não sei como se chama) e aspira o rapé.
Tento proibir:
- Meu filho, você vive molhando os
outros, pregando sustos, irritando. Abandone esse vício espalhafatoso,
incômodo. Seria melhor fumar charuto.
Ele nem liga, sempre espirrando, em
conduções, velórios, conferências, teatros, em toda parte. Não consegue se
livrar desse pó maldito. É um dependente. Quando vai pedir emprego, para
desinibir, cheira.
- Estou me apresentando para... atchim!
- O senhor está resfriado?
- Não - atchim, atchim, atchim etc.
Sai, claro, desempregado como entrou.
Espirro não é forma de comunicação, não é argumento, não vale como currículo.
Apaixonou-se e foi pedir a mão da moça
em casamento. Disseram-me que foram onze atchins consecutivos. Uns altos,
outros baixos, uns fragmentados, outros explosivos, mas tudo muito monótono. O
futuro sogro até que se conteve a princípio. Mas, quando o viu tirar
automaticamente do bolso a caixa de rapé, perguntou:
- O senhor é viciado nisso?
- Sou – ele confessou de cabeça baixa.
E o sogro disse não.
Outro filho meu também está se
desviando. Evita pais e parentes. Não gosta de estudar, de ler, mora no mundo
da lua. Noite alta, salta a janela de casa e desaparece. Descobrimos isso e o
forçamos a contar o que faz na rua até de madrugada. Negou-se peremptoriamente.
Ameaçou até suicidar-se com gás se insistíssemos. Mas não recuamos e procuramos
descobrir o que leva esse insensato a sumir dessa maneira.
- Para mim, tem música nisso – suspeitou
a mãe.
- Música? É, pode ser – admiti. – Ele
anda um tanto alheado.
Tinha razão. Descobrimos. O maroto anda
fazendo serenata! Meu filho, seresteiro! Comprou um violão às escondidas! Agora
vive fazendo barulho ao pé de janelas, nas madrugadas, despertando pessoas que
precisam acordar cedo para o trabalho. E exposto alucinado ao sereno, à garoa,
ao chuvisqueiro, que tão mal fazem aos pulmões. Muitos seresteiros, sabe-se,
morrem de pneumonia, quando – eles que se cuidem – não são abatidos a tiros de
garrucha por pais, irmãos e namorados das moças que pretendem agradar. Ou mesmo
por vizinhos furiosos. As gazetas sempre trazem casos assim.
E por fim tem o menorzinho. Esse se
viciou nessa tal de lanterna mágica. Conhecem, não? Chegou
recentemente da Europa e está a venda nas lojas do centro. É um
aparelho óptico que amplia e projeta imagens iluminadas. O menino fica numa
sala escura com amiguinhos o dia inteiro vendo essas imagens. Jaulas de
macacos, parques de diversões, trens, balões, banquetes, caras de reis e
navios. Imagens coloridas que parecem ter dimensões e movimento. A impressão é
que os garotos esquecem o lar, se afastam do mundo, rompem com a realidade.
Podem imaginar uma coisa assim? O aparelho causa hipnose, fixação mórbida,
idiotiza e talvez possa até cegar. Li que a lanterna mágica, projetando cerca
de dez imagens por minuto, acaba causando sérias perturbações no cérebro dos
jovens, levando inclusive ao enlouquecimento. Sim, ao enlouquecimento.
Pó que vicia, ritmos antissociais,
máquinas diabólicas. Caluda!
Este fim de século ameaça destruir
nossos jovens.
São
Paulo de Piratininga, 1893.
(Texto
publicado em 1996, no livro de crônicas “Coração Roubado”, de Marcos Rey)
Rapé: O
rapé é o tabaco. O hábito de consumir rapé era bastante difundido no Brasil até
o início do século XX. Era visto de maneiras contraditórias: às vezes como
hábito elegante, às vezes como vício.
Lanterna mágica: Brinquedo que tentava imitar o cinema.
Crônica: Essa mocidade de
hoje... (Marcos Rey)
1- Após a leitura atenta do texto, responda: Qual é
o assunto tratado nessa crônica? Detalhe.
2- Escreva um resumo da crônica lida, em poucas
linhas.
3- Qual é o objetivo do autor na crônica lida?
4- Perceba que, ao final do texto, o autor escreve
“São Paulo de Piratininga, 1893”, como se fosse a data em que o texto foi
escrito. No entanto, nesse ano, o autor ainda não havia nascido; além disso, a
crônica foi escrita no ano de 1996 e não em 1893. Qual é o objetivo do autor ao
fazer isso?
5- O que o autor quer dizer com a expressão “deu de
cheirar”, destacada no primeiro parágrafo?
6- O pronome “ele”, destacado na última linha do 1º
parágrafo, substitui que termo antecedente?
( ) fim de
século
( ) filho mais
velho
( ) vício terrível
7- A palavra “garrucha”, empregada no 16º
parágrafo, pode ter vários significados a depender do contexto. Na crônica
lida, o que é uma “garrucha”?
8- No 2º parágrafo, o narrador diz “... quem
aguenta uma pessoa espirrando o tempo todo?”. De acordo com o texto, o que
podemos apontar como causa dos espirros?
9- Além das substituições de um termo por outro, a
omissão de um termo também tem a função de interligar as partes do texto. Em
relação a isso, no antepenúltimo parágrafo, a quem se refere a informação
“chegou recentemente da Europa”?
( ) ao [filho]
menorzinho
( ) à lanterna
mágica
( ) à garrucha
10- Quais são, atualmente, as preocupações dos pais
em relação aos filhos? Essas preocupações são iguais às que o texto apresenta?
Explique.
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Maria José (Paulo
Mendes Campos)
Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase
sempre e violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um companheiro
maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a pedra que marcava o gol.
Dei uma pedrada no outro e acabei com a briga como por milagre.
Visitava os miseráveis, internava indigentes
enfermos, devotava-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo,
estudava o mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma,
ingressou na Ordem Terceira de São Francisco, comungava todos os dias; mas
nunca deixou de ter na gaveta um revólver e uma caixa de balas. O revólver que
recebera, menina-e-moça, das mãos do seu pai e que ela empunhou no quintal
noturno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos.
Já perto dos setenta anos, ela explicava para um
amigo meu que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com
quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa dos filhos e
dos netos. Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a revolta e o verdor
da minha infância. Ensinou-me a ler as primeiras sentenças francesas; me falava
no Cura de Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e o de Assis; apresentou-me
aos contos de Edgar Poe e aos poemas de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de
Antônio Nobre, que decorara em menina; discutia comigo as ideias finais de Tolstói;
ouvia maternalmente meus contos toscos; quando me desgarrei nos primeiros
enleios adolescentes, Maria José com irônico afeto me repetia a advertência de
Drummond: "Paulo, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija,
amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira que ninguém sabe o
que será."
Logo que me fiz homenzinho, deixou de repente a
dureza e se fez a minha amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice.
Com o gosto espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais
singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos lúcidos.
Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as almas que se
transviam. Fé, esperança e caridade eram para ela a flecha e o alvo das
criaturas.
Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a
dor – que se fazia difícil para os médicos saber o que sentia; se insistiam,
acabava dizendo que doía um pouco, por delicadeza.
Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final
da vida, podia acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda ao
restaurante diferente, beber dois ou três uísques em santa serenidade e aceitar
com alegria um prato exótico.
Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão,
admirava São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
violência para entrar no reino celeste.
Poucas horas antes do fim, pediu um conhaque e
sorriu, destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificar-se. Deus
era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade e o fogo do espírito.
Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomendava à compaixão do criador e me
defendia contra o mundo de revólver na mão.
Título da crônica: Maria José (Paulo
Mendes Campos)
1- Qual é o assunto principal da crônica Maria José, de
Paulo Mendes Campos? Detalhe.
2- Quem praticava as ações apresentadas no segundo parágrafo do texto
(“visitava”, “internava”, “devotava” etc.)?
3- No terceiro parágrafo, quando o narrador diz “tinha chegado à
humildade da velhice”, de quem ele está falando?
4- Assinale a alternativa que apresenta uma reflexão possível a partir
da leitura da crônica de Paulo Mendes Campos.
a) O texto lido levanta, como reflexão principal, as consequências da
criação de filhos com violência, pois eles acabam reproduzindo os atos
violentos com seus companheiros de infância.
b) A reflexão que o autor da crônica provoca no leitor relaciona-se ao
fato de que toda mãe deveria ter um revolver em casa para defender sua família
de todos os males que surgirem.
c) O texto de Paulo Mendes Campos traz, com sensibilidade, uma reflexão
sobre uma figura materna, apresentada como uma pessoa disposta a educar com
firmeza, sendo doce ou grossa quando necessário.
d) Com o texto, o cronista pretende levar o leitor a refletir sobre o
fato de que muitas mães deixam a desejar na educação de seus filhos, além de
muitas vezes representarem uma má influência para as crianças.
5- No oitavo parágrafo do texto, lemos o seguinte: “Gostava das
pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava São
Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se
fazer violência para entrar no reino celeste [...]”. De acordo com o contexto,
a quem se referem essas ações?
a) Ao narrador do
texto.
b) A Maria
José.
c) Ao casal
amigo.
d) Ao autor do texto.
6- Embora o texto de Paulo Mendes Campos não apresente diretamente a
ideia de que Maria José é a mãe do narrador, alguns trechos nos levam a achar
isso. Localize e escreva pelo menos um trecho da crônica que
nos revele essa informação.
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Mãe (Rubem
Braga)
(Crônica dedicada ao Dia das Mães, embora com o
final inadequado, ainda que autêntico.)
O menino e seu amiguinho brincavam nas primeiras
espumas; o pai fumava um cigarro na praia, batendo papo com um amigo. E o mundo
era inocente, na manhã de sol.
Foi então que chegou a Mãe (esta crônica é modesta
contribuição ao Dia das Mães), muito elegante em seu shorts, e mais
ainda em seu maiô. Trouxe óculos escuros, uma esteirinha para se esticar, óleo
para a pele, revista para ler, pente para se pentear — e trouxe seu coração de
Mãe que imediatamente se pôs aflito achando que o menino estava muito longe e o
mar estava muito forte.
Depois de fingir três vezes não ouvir seu nome
gritado pelo pai, o garoto saiu do mar resmungando, mas logo voltou a se
interessar pela alegria da vida, batendo bola com o amigo. Então a Mãe começou
a folhear a revista mundana — “que vestido horroroso o da Marieta neste
coquetel” — “que presente de casamento vamos dar à Lúcia? tem de ser uma coisa
boa” — e outros pequenos assuntos sociais foram aflorados numa conversa
preguiçosa. Mas de repente:
— Cadê Joãozinho?
O outro menino, interpelado, informou que Joãozinho
tinha ido em casa apanhar uma bola maior.
— Meu Deus, esse menino atravessando a rua sozinho! Vai lá, João, para
atravessar com ele, pelo menos na volta!
O pai (fica em minúscula; o Dia é da Mãe) achou que
não era preciso:
— O menino tem OITO anos, Maria!
— OITO anos, não, oito anos, uma criança. Se todo
dia morre gente grande atropelada, que dirá um menino distraído como esse!
E erguendo-se olhava os carros que passavam, todos
guiados por assassinos (em potencial) de seu filhinho.
— Bem, eu vou lá só para você não ficar assustada.
Talvez a sombra do medo tivesse ganho também o
coração do pai; mas quando ele se levantou e calçou a alpercata para atravessar
os vinte metros de areia fofa e escaldante que o separavam da calçada, o garoto
apareceu correndo alegremente com uma bola vermelha na mão, e a paz voltou a
reinar sobre a face da praia.
Agora o amigo do casal estava contando pequenos
escândalos de uma festa a que fora na véspera, e o casal ouvia, muito
interessado — “mas a Niquinha com o coronel? não é possível!” — quando a Mãe se
ergueu de repente:
— E o Joãozinho?
Os três olharam em todas as direções, sem
resultado. O marido, muito calmo — “deve estar por aí”, a Mãe gradativamente
nervosa — “mas por aí, onde?” — o amigo otimista, mas levemente apreensivo.
Havia cinco ou seis meninos dentro da água, nenhum era o Joãozinho. Na areia
havia outros. Um deles, de costas, cavava um buraco com as mãos, longe.
— Joãozinho!
O pai levantou-se, foi lá, não era. Mas conseguiu
encontrar o amigo do filho e perguntou por ele.
— Não sei, eu estava catando conchas, ele estava
catando comigo, depois ele sumiu.
A Mãe, que viera correndo, interpelou novamente o
amigo do filho. “Mas sumiu como? para onde? entrou na água? não sabe? mas que
menino pateta!” O garoto, com cara de bobo, e assustado com o interrogatório,
se afastava, mas a Mãe foi segurá-lo pelo braço: “Mas diga, menino, ele entrou
no mar? como é que você não viu, você não estava com ele? hein? ele entrou no
mar?”.
— Acho que entrou… ou então foi-se embora.
De pé, lábios trêmulos, a Mãe olhava para um lado e
outro, apertando bem os olhos míopes para examinar todas as crianças em volta.
Todos os meninos de oito anos se parecem na praia, com seus corpinhos queimados
e suas cabecinhas castanhas. E como ela queria que cada um fosse seu filho,
durante um segundo cada um daqueles meninos era o seu filho, exatamente ele,
enfim — mas um gesto, um pequeno movimento de cabeça, e deixava de ser. Correu
para um lado e outro. De súbito ficou parada olhando o mar, olhando com tanto
ódio e medo (lembrava-se muito bem da história acontecida dois a três anos
antes, um menino estava na praia com os pais, eles se distraíram um instante, o
menino estava brincando no rasinho, o mar o levou, o corpinho só apareceu cinco
dias depois, aqui nesta praia mesmo!) — deu um grito para as ondas e espumas —
“Joãozinho!”.
Banhistas distraídos foram interrogados — se viram
algum menino entrando no mar — o pai e o amigo partiram para um lado e outro da
praia, a Mãe ficou ali, trêmula, nada mais existia para ela, sua casa e
família, o marido, os bailes, os Nunes, tudo era ridículo e odioso, toda essa
gente estúpida na praia que não sabia de seu filho, todos eram culpados —
“Joãozinho !” — ela mesma não tinha mais nome nem era mulher, era um bicho
ferido, trêmulo, mas terrível, traído no mais essencial de seu ser, cheia de
pânico e de ódio, capaz de tudo — “Joãozinho !” — ele apareceu bem perto,
trazendo na mão um sorvete que fora comprar. Quase jogou longe o sorvete do
menino com um tapa, mandou que ele ficasse sentado ali, se saísse um passo iria
ver, ia apanhar muito, menino desgraçado!
O pai e o amigo voltaram a sentar, o menino riscava
a areia com o dedo grande do pé, e quando sentiu que a tempestade estava
passando fez o comentário em voz baixa, a cabeça curva, mas os olhos erguidos
na direção dos pais:
— Mãe é chaaata…
Maio, 1953.
Título da crônica: Mãe (Rubem
Braga)
1- Qual é o assunto principal da crônica Mãe, de Rubem
Braga? Detalhe.
2- No terceiro parágrafo do texto, a quem se refere a expressão “seu
nome”?
3- No trecho “erguendo-se olhava os carros que
passavam”, a quem se refere o pronome se?
4- No trecho “que o separavam da calçada”, a
quem se refere o pronome o?
5- Assinale a alternativa que apresenta uma reflexão possível a partir
da leitura da crônica de Rubem Braga.
a) O texto lido reflete, principalmente, sobre o fato de que muitas
mães, por superproteção, não deixam seus filhos viverem.
b) A crônica de Paulo Mendes Campos faz o leitor refletir sobre a
incompreensão dos filhos diante dos cuidados e preocupações que as mães
normalmente expressam e demonstram por eles.
c) O texto de Paulo Mendes Campos busca, principalmente, provocar no
leitor uma reflexão sobre a ideia de que os pais sempre transferem para as mães
a tarefa de cuidar dos filhos.
d) Com o texto, o cronista pretende levar o leitor a refletir sobre o
fato de que as preocupações das mães são desnecessárias e acabam criando a
ideia de que elas são pessoas chatas.
6- Releia o seguinte trecho: “De súbito ficou parada olhando o mar,
olhando com tanto ódio e medo”. Que fato apresentado no
texto justifica o medo da mãe ao se deparar com o mar enquanto procurava pelo
filho?
7- Quando o narrador diz “o corpinho só apareceu
cinco dias depois”, a que se refere a palavra destacada?
8- Por que o autor do texto diz que, embora a crônica seja para o Dia
das Mães, seu final é inadequado para a data?
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Os bons ladrões (Paulo Mendes Campos)
Morando sozinha e indo à cidade em um
dia de festa, uma senhora de Ipanema teve a sua bolsa roubada, com todas as
suas joias dentro. No dia seguinte, desesperada de qualquer eficiência
policial, recebeu um telefonema:
- É a senhora de quem roubaram a bolsa
ontem?
-
Sim.
-
Aqui é o ladrão, minha senhora.
-
Mas como o... senhor descobriu o meu número?
-
Pela carteira de identidade e pela lista.
-
Ah, é verdade. E quanto quer para devolver os meus objetos?
-
Não quero nada, madame. O caso é que sou um homem casado.
-
Pelo fato de ser casado, não precisa andar roubando. Onde estão as minhas
joias, seu sujeito ordinário?
-
Vamos com calma, madame. Quero dizer que só ontem, por um descuido meu, minha
mulher descobriu quem eu sou realmente. A senhora não imagina o meu drama.
-
Escute uma coisa, eu não estou para ouvir graçolas de um ladrão muito
descarado...
-
Não é graçola, madame. O caso é que adoro minha mulher.
-
E por que o senhor está me contando isso? O que me interessa são as joias e a
carteira de identidade (dá um trabalho danado tirar outra), e não tenho nada
com a sua vida particular. Quero o que é meu.
-
Claro, madame, claro. Estou lhe telefonando por isso. Imagine a senhora que
minha mulher falou que me deixa imediatamente se eu não me regenerar...
-
Coitada! Ir numa conversa dessas.
-
Pois eu prometi nunca mais roubar em minha vida.
-
E ela bancou a pateta de acreditar?
-
Acho que não. Mas, o que eu prometo, eu cumpro; sou um homem de palavra.
-
Um ladrão de palavra, essa é fina. As minhas joias naturalmente o senhor já
vendeu.
-
Absolutamente, estão em meu poder.
-
E quanto quer por elas? Diga logo.
-
Não vendo, madame, quero devolvê-las. Infelizmente, minha mulher disse que só
acreditaria em minha regeneração se eu lhe devolvesse as joias. Depois ela vai
lhe telefonar para checar.
-
Pois fique sabendo que eu estou gostando muito de sua senhora. Pena uma pessoa
de tanto caráter estar casada com um... homem fora da lei.
-
É também o que eu acho. Mas gosto tanto dela que estou disposto a qualquer
sacrifício.
-
Meus parabéns. O senhor vai trazer-me as joias aqui?
-
Isso nunca. A senhora podia fazer uma suja.
-
Uma o quê?
-
A senhora, com o perdão da palavra, podia chamar a polícia.
-
Prometo que não chamo, não por sua causa, por causa de sua senhora.
-
Vai me desculpar, madame, mas nessa eu não vou.
-
Também sou uma mulher de palavra.
-
O caso, madame, é que nós, os desonestos, não acreditamos na palavra dos
honestos.
-
Tá. Mas como o senhor pretende fazer então?
-
Estou bolando um jeito de lhe mandar as joias sem perigo para mim e sem que
outro ladrão possa roubá-las. A senhora não tem uma ideia?
-
O senhor entende mais disso do que eu.
-
É verdade. Tenho um plano: eu lhe mando umas flores com as joias dentro dum
pequeno embrulho.
-
Não seria melhor eu encontrá-lo numa esquina?
-
Negativo! Tenho meu pudor, madame.
-
Mas não há perigo de mandar algo de tanto valor para uma casa de flores?
-
Não. Vou seguir o entregador a uma certa distância.
-
Então, vou ficar esperando. Não se esqueça da carteira.
-
Dentro de vinte minutos está tudo aí.
-
Sendo assim, muito agradecida e lembranças para a sua senhora.
Dentro
do prazo marcado, um menino confirmava, que em certas ocasiões, até os ladrões
mandam flores e joias.
COMPREENSÃO DA CRÔNICA OS BONS
LADRÕES
(PAULO MENDES CAMPOS)
1- Justifique o título do texto.
2- Escreva um resumo da história em poucas linhas.
3- Qual é o objetivo do autor na crônica lida?
4- Releia a seguinte frase retirada do texto: “Onde
estão as minhas joias, seu sujeito ordinário?”. A
palavra ordinário pode ter sentidos diferentes a
depender do contexto em que aparece. No trecho, esse adjetivo caracteriza
o sujeito como um:
a) homem
comum.
b) homem sem destaque.
c) homem apegado aos bens
materiais.
d) homem mau-caráter.
5- Na frase “Escute uma coisa, eu não estou para
ouvir graçolas de um ladrão muito descarado...”, qual o
significado da palavra destacada?
6- Releia o seguinte trecho: “Estou lhe telefonando
por isso. Imagine a senhora que minha mulher falou que me deixa imediatamente
se eu não me regenerar...”. No contexto, o que o ladrão quer
dizer com a palavra regenerar?
7- Na fala “Isso nunca. A senhora podia fazer
uma suja”, o que o ladrão quer dizer ao empregar a
expressão fazer uma suja?
8- Releia as seguintes falas da mulher:
“Mas como o... senhor
descobriu o meu número?”
“Pena uma pessoa de tanto caráter estar
casada com um... homem fora da lei.”
a) Após a leitura, reflita: o que as reticências empregadas
nas duas falas da mulher expressam?
b) O que a mulher quer dizer com a expressão homem
fora da lei?
9- O último período do texto – “Dentro do prazo
marcado, um menino confirmava, que em certas ocasiões, até os ladrões mandam
flores e joias.” – funciona como uma moral da crônica lida, tendo em vista que
se apresenta como uma reflexão feita a partir da história. Assinale a
alternativa que melhor expressa a reflexão trazida nesse trecho.
a) Por pior que a pessoa seja, sempre há um limite,
um ponto que ela terá que respeitar, por ordem de alguém ou por arrependimento.
b) Mulheres não devem atender telefonemas de
ladrões, pois pode acabar surgindo um envolvimento amoroso entre eles, como na
crônica lida.
c) Há ladrões tão bons que mandam flores e joias
para as pessoas que foram roubadas por eles.
d) Ladrões desobedecem às leis, mas sempre obedecem
às suas esposas.
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HISTÓRIA TRISTE DE TUIM - Rubem Braga
João-de-barro é um bicho bobo que
ninguém pega, embora goste de ficar perto da gente; mas de dentro daquela casa
de joão-de-barro vinha uma espécie de choro, um chorinho fazendo tuim, tuim,
tuim...
A casa estava num galho alto, mas um
menino subiu até perto, depois com uma vara de bambu conseguiu tirar a casa sem
quebrar e veio baixando até o outro menino apanhar. Dentro, naquele quartinho
que fica bem escondido depois do corredor de entrada para o vento não incomodar,
havia três filhotes, não de joão-de-barro, mas de tuim.
Você conhece, não? De todos esses
periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser menor. Tem bico redondo e
rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três
filhotes, um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando. O menino
levou-os para casa, inventou comidinhas para eles, um morreu, outro morreu,
ficou um.
Geralmente se cria em casa é casal de
tuim, especialmente para se apreciar o namorinho deles. Mas aquele tuim macho
foi criado sozinho e, como se diz na roça, criado no dedo. Passava o dia solto,
esvoaçando em volta da casa da fazenda, comendo sementinhas de imbaúba. Se
aparecia uma visita fazia-se aquela demonstração: era o menino chegar na
varanda e gritar para o arvoredo: tuim, tuim, tuim! Às vezes demorava, então a
visita achava que aquilo era brincadeira do menino, de repente surgia a ave,
vinha certinho pousar no dedo do garoto.
Mas o pai disse: "menino, você
está criando muito amor a esse bicho, quero avisar: tuim é acostumado a viver
em bando. Esse bichinho se acostuma assim, toda tarde vem procurar sua gaiola
para dormir, mas no dia que passar pela fazenda um bando de tuins, adeus. Ou
você prende o tuim ou ele vai embora com os outros; mesmo ele estando preso e
ouvindo o bando passar, está arriscando a ele morrer de tristeza".
E o menino vivia de ouvido no ar, com
medo de ouvir bando de tuim.
Foi de manhã, ele estava cantando
minhoca para pescar quando viu o bando chegar; não tinha engano: era tuim,
tuim, tuim... Todos desceram ali mesmo em mangueiras, mamonas e num bambuzal,
divididos em pares. E o seu? Já tinha sumido, estava no meio deles, logo depois
todos sumiram para uma roça de arroz; o menino gritava com o dedinho esticado
para o tuim voltar; nada.
Só parou de chorar quando o pai chegou
a cavalo, soube da coisa, disse: "venha cá". E disse: "o senhor
é um homem, estava avisado do que ia acontecer, portanto, não chore mais".
O menino parou de chorar, porque tinha
brio, mas como doía seu coração! De repente, olhe o tuim na varanda! Foi uma
alegria na casa que foi uma beleza, até o pai confessou que ele também estivera
muito infeliz com o sumiço do tuim.
Houve quase um conselho de família,
quando acabaram as férias: deixar o tuim, levar o tuim para São Paulo? Voltaram
para a cidade com o tuim, o menino toda hora dando comidinha a ele na viagem. O
pai avisou: "aqui na cidade ele não pode andar solto; é um bicho da roça e
se perde, o senhor está avisado".
Aquilo encheu de medo o coração do
menino. Fechava as janelas para soltar o tuim dentro de casa, andava com ele no
dedo, ele voava pela sala; a mãe e a irmã não aprovavam, o tuim sujava dentro
de casa.
Soltar um pouquinho no quintal não
devia ser perigo, desde que ficasse perto; se ele quisesse voar para longe era
só chamar, que voltava; mas uma vez não voltou.
De casa em casa, o menino foi indagando
pelo tuim: "que é tuim?" perguntavam pessoas ignorantes.
"Tuim?" Que raiva! Pedia licença para olhar no quintal de cada casa,
perdeu a hora de almoçar e ir para a escola, foi para outra rua, para outra.
Teve uma ideia, foi ao armazém de
"seu" Perrota: "tem gaiola para vender?" Disseram que
tinha. "Venderam alguma gaiola hoje?" Tinham vendido uma para uma
casa ali perto.
Foi lá, chorando, disse ao dono da
casa: "se não prenderam o meu tuim então por que o senhor comprou gaiola
hoje?"
O homem acabou confessando que tinha
aparecido um periquitinho verde sim, de rabo curto, não sabia que chamava tuim.
Ofereceu comprar, o filho dele gostara tanto, ia ficar desapontado quando
voltasse da escola e não achasse mais o bichinho. "Não senhor, o tuim é
meu, foi criado por mim". Voltou para casa com o tuim no dedo.
Pegou uma tesoura: era triste, era uma
judiação, mas era preciso: cortou as asinhas; assim o bicho poderia andar solto
no quintal, e nunca mais fugiria.
Depois foi lá dentro fazer uma coisa
que estava precisando fazer, e, quando voltou para dar comida a seu tuim, viu
só algumas penas verdes e as manchas de sangue no cimento. Subiu num caixote
para olhar por cima do muro, e ainda viu o vulto de um gato ruivo que sumia.
Acabou-se a história do tuim.
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
1- Passando as férias na fazenda da família, o
menino encontra três filhotes de tuim e os leva para casa.
a) Onde esses filhotes estavam?
b) Como eram os três filhotes?
c) Na sua opinião, por que dois dos filhotes
morreram?
2- O filhote de tuim que sobreviveu foi criado de
um modo incomum. O narrador diz: “aquele tuim macho foi criado sozinho e, como
se diz na roça, criado no dedo”. No contexto, o que significa um pássaro ser
“criado no dedo”?
3- O pai adverte o menino de que um dia o tuim
poderia ir embora para sempre com um bando de tuins que passasse pela fazenda.
a) Que conselho o pai deu ao menino para impedir
que tal fato acontecesse?
b) O menino acatou o conselho do pai? Que fatos do
texto comprovam sua resposta?
c) Em sua opinião, o que levou o menino a não
acatar o conselho do pai?
4- Acabam as férias e, quando a família volta para
São Paulo, o menino leva o tuim com ele para a cidade.
a) Antes da volta para a cidade, qual nova
advertência o pai fez ao menino?
b) Amedrontado pela advertência do pai, que
cuidados para proteger o tuim o menino começou a ter?
5- Um dia o tuim voa e não volta mais.
a) Na procura pelo pássaro, que estratégia o menino
utilizou para tentar descobrir onde ele estava?
b) Quando propôs a compra do tuim, que argumento o
homem que prendera o pássaro utilizou para tentar convencer o menino a
vendê-lo?
c) Como o menino convenceu o homem a devolver-lhe o
tuim?
6- Para manter o tuim solto no quintal e eliminar o
risco de que ele fugisse novamente, o menino tomou uma decisão.
a) Qual foi essa decisão?
b) Qual foi a consequência do que o menino fez?
7- Para você, o fato de o tuim ter sido criado “no
dedo” garantiu bem-estar ao pássaro ou proporcionou alegria ao menino?
8- O texto lido é uma crônica. A crônica é um
gênero textual que, com base em um fato cotidiano, faz uma crítica ou provoca
no leitor uma reflexão sobre o mundo em que vivemos. Na sua opinião, o texto de
Rubem Braga provoca reflexões? Justifique sua resposta.
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CRÔNICA: Um idoso na fila do Detran
(Zuenir Ventura)
“O
senhor aqui é idoso”, gritava a senhora para o guarda, no meio da confusão na
porta do Detran da Avenida Presidente Vargas, apontando com o dedo o tal
“senhor”. Como ninguém protestasse, o policial abriu o caminho para que o
velhinho enfim passasse à frente de todo mundo para buscar a sua carteira.
Olhei
em volta e procurei com os olhos o velhinho, mas nada. De repente, percebi que
o “idoso” que a dama solidária queria proteger do empurra-empurra não era outro
senão eu.
Até
hoje não me refiz do choque, eu que já tinha me acostumado a vários e
traumáticos ritos de passagem para a maturidade: dos 40, quando em crise se
entra pela primeira vez nos “enta”; dos 50, quando, deprimido, se sente que
jamais vai se fazer outros 50 (a gente acha que pode chegar aos 80, mas aos
100?); e dos 60, quando um eufemismo diz que a gente entrou na “terceira
idade”. Nunca passou pela minha cabeça que houvesse uma outra passagem, um
outro marco, aos 65 anos. E, muito menos, nunca achei que viesse a ser chamado,
tão cedo, de “idoso”, ainda mais numa fila do Detran.
Na
hora, tive vontade de pedir à tal senhora que falasse mais baixo. Na verdade,
tive vontade mesmo foi de lhe dizer: “idoso é o senhor seu pai”. O que mais
irritava era a ausência total de hesitação ou dúvida. Como é que ela tinha
tanta certeza? Que ousadia! Quem lhe garantia que eu tinha 65 anos, se nem
pediu pra ver minha identidade? E o guarda paspalhão, por que não criou um
caso, exigindo prova e documentos? Será que era tão evidente assim? Como além
de idoso eu era um recém-operado, acabei aceitando ser colocado pela porta
adentro. Mas confesso que furei a fila sonhando com a massa gritando,
revoltada: “esse coroa tá furando a fila! Ele não é idoso! Manda ele lá pro
fim!” Mas que nada, nem um pio.
O
silêncio de aprovação aumentava o sentimento de que eu era ao mesmo tempo
privilegiado e vítima — do tempo. Me lembrei da manhã em que acordei fazendo 60
anos: “Isso é uma sacanagem comigo”, me disse, “eu não mereço.” Há poucos dias,
ao revelar minha idade, uma jovem universitária reagira assim: “Mas ninguém lhe
dá isso.” Respondi que, em matéria de idade, o triste é que ninguém precisa dar
para você ter. De qualquer maneira, era um gentil consolo da linda jovem. Ali
na porta do Detran, nem isso, nenhuma alma caridosa para me “dar” um pouco
menos.
Subi
e a mocinha da mesa de informações apontou para os balcões 15 e 16, onde havia
um cartaz avisando: “Gestantes, deficientes físicos e pessoas idosas.” Hesitei
um pouco e ela, já impaciente, perguntou: “O senhor não tem mais de 65 anos?
Não é idoso?”
—
Não, sou gestante — tive vontade de responder, mas percebi que não carregava
nenhum sinal aparente de que tinha amamentado ou estava prestes a amamentar
alguém. Saí resmungando: “não tenho mais, tenho só 65 anos.”
O
ridículo, a partir de uma certa idade, é como você fica avaro em matéria de
tempo: briga por causa de um mês, de um dia. “Você nasceu no dia 14, eu sou do
dia 15”, já ouvi essa discussão.
Enquanto
espero ser chamado, vou tentando me lembrar quem me faz companhia nesse triste transe.
Aí, se não me falha a memória — e essa é a segunda coisa que mais falha nessa
idade —, me lembro que Fernando Henrique, Maluf e Chico Anysio estariam
sentados ali comigo. Por associação de ideias, ou de idades, vou recordando
também que só no jornalismo, entre companheiros de geração, há um respeitável
time dos que não entram mais em fila do Detran, ou estão quase não entrando:
Ziraldo, Dines, Gullar, Evandro Carlos, Milton Coelho, Janio de Freitas (Lemos,
Cony, Barreto, Armando e Figueiró já andam de graça em ônibus há um bom tempo).
Sei que devo estar cometendo injustiça com um ou com outro — de ano, meses ou
dias —, e eles vão ficar bravos. Mas não perdem por esperar: é questão de
tempo.
Ah,
sim, onde é que eu estava mesmo? “No Detran”, diz uma voz. Ah, sim. “E o
atendimento?” Ah, sim, está mais civilizado, há mais ordem e limpeza. Mas mesmo
sem entrar em fila passa-se um dia para renovar a carteira. Pelo menos alguma
coisa se renova nessa idade.
ESTUDO SOBRE CRÔNICA, A PARTIR DO TEXTO
“UM IDOSO NA FILA DO DETRAN” (ZUENIR VENTURA)
1- O texto “Um idoso na fila do Detran” é uma
crônica. Esse gênero textual quase sempre é curto, tem poucas personagens e se
inicia quando os fatos principais da narrativa estão por acontecer. Por essa
razão, nele o tempo e o espaço são limitados. Em “Um idoso na fila do Detran”:
a) Quais são as personagens envolvidas na história?
b) Onde aconteceram os fatos narrados?
c) Qual é o tempo de duração desses fatos?
d) Resuma, em poucas linhas, os fatos
narrados.
2- Numa crônica os fatos podem ser narrados por um
narrador-observador ou por um narrador-personagem. Qual é o tipo de narrador na
crônica “Um idoso na fila do Detran”? Justifique sua resposta.
3- O cronista tem o olhar atento nas notícias
veiculadas em jornais falados e escritos e nos fatos do dia a dia. E os
registra com sensibilidade, ora criando humor, ora provocando uma reflexão
crítica acerca da realidade.
a) A história relatada na crônica estudada é apenas
ficcional, ou seja, inventada pelo cronista? Justifique sua resposta.
b) Conclua: A crônica estudada se limita a narrar
fatos ou busca uma abordagem mais abrangente deles?
c) Que objetivos o autor da crônica “Um idoso na
fila do Detran” tem em vista: tratar cientificamente de um assunto, instruir
funcionário de órgãos públicos, divertir ou levar o leitor a refletir
criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos? Justifique sua
resposta.
4- Observe a linguagem empregada na crônica “Um
idoso na fila do Detran”.
a) Os fatos são narrados de forma pessoal,
subjetiva, isto é, de acordo com a visão do cronista, ou são narrados de forma
impessoal, objetiva, numa linguagem jornalística?
b) Em relação à linguagem, a crônica está mais
próxima do noticiário geral de um jornal ou dos textos literários, como o
conto, o mito, o poema?
c) Que tipo de variedade linguística é adotado na
crônica: uma variedade de acordo com a norma-padrão formal ou com a
norma-padrão informal? Justifique sua resposta.
5- Troque ideias com os colegas e, juntos,
concluam: Quais são as características da crônica?
NÃO TEM GABARITO
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