ATIVIDADE SOBRE BOLHA SOCIAL, FAKE NEWS, REDES SOCIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA (ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO)
COMO SAIR DAS BOLHAS?
A pesquisadora
Pollyana Ferrari fala sobre fake news, o
conceito de pós-verdade e o papel da educação para construir ética, senso
crítico e permitir leituras de mundo
[...] Carta Educação: Há como
mensurar o início das fake news? Vivemos uma ascensão das notícias
falsas?
Pollyana Ferrari:
As fake news sempre existiram. No meu livro eu cito relatos e resumos de
jornais fake desde Roma Antiga. [...] O que mudou é a questão da escala.
Com as redes sociais, basicamente as temos há 14 anos, todo mundo ganhou voz,
temos produção de conteúdo via celulares, blogs, influenciadores
digitais. E, veja, eu não sou contra esse movimento, é positivo termos outras
vozes para além da grande mídia. A questão é que nos grandes veículos há etapas
de apuração de informação, um mínimo de checagem, independentemente da linha
editorial que sigam. Não estou falando de viés político, mas de etapas de
apuração. Com a pulverização, isso se perde. E, sim, estamos em um momento de
ascensão das fake news, o que é muito preocupante.
CE: Qual a
relação entre fake news e pós-verdade?
PF: A
pós-verdade aponta para uma sociedade informacional que compartilha personas
digitais, desejos que não têm lastro com o real. Vejo que às vezes as pessoas até
têm dimensão de que determinada informação é falsa, mas como isso vai ao
encontro do seu desejo, elas
compartilham.
CE: Como
isso ganha força e pode ser prejudicial no contexto digital da internet e das redes
sociais?
PF: Vamos
imaginar duas situações. Um jovem, adaptado à presença nessas plataformas e que
acredita mais nos seus amigos e na sua timeline do que nos veículos e
até em seu professor. Agora, o idoso que, por sua vez, não está acostumado com
a presença digital e que vinha de uma relação com a informação em que se preservava
uma checagem mínima. Isso parece inofensivo, mas, quando consideramos que só no
Facebook há dois bilhões de pessoas, é preocupante. Isso sem contar os
aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, um dos mais utilizados
pelos brasileiros e um dos disseminadores de fake news em potencial. O
que estou querendo dizer é que, geralmente, o dedo é mais rápido que o cérebro,
se compartilha muita coisa sem checar informação, sem questionar de onde vem a
foto, o vídeo. É preciso ter senso crítico e questionar o que se recebe.
CE: Quais
são os riscos das fake news?
PF: Em 2014,
Fabiane de Jesus foi linchada no Guarujá, litoral de São Paulo, por ser acusada
de praticar magia negra com crianças. A informação era falsa, era um boato de
internet. Quando se dissemina uma inverdade, com o intuito de prejudicar
alguém, se perde a dimensão desse
impacto. Depois que se espalha, você pode até tirar a informação do ar, mas às
vezes
os casos são incontornáveis. [...] É
preciso muito cuidado, uma informação mentirosa pode destruir a vida de alguém,
uma reputação, acabar com uma empresa, uma escola, uma família.
CE: Quem são
os maiores produtores de fake news hoje?
PF: Temos
escritórios e grupos que ganham dinheiro com as fakenews, mas eles representam
30% da veiculação de informações falsas. A maior parte vem das pessoas que
propagam pequenas mentiras, embasadas em ódio por não pactuarem com determinada
ideologia, ou conteúdos inapropriados que visam à perseguição de determinados grupos
ou indivíduos, por exemplo, o vazamento de fotos por bullying. Esse movimento
é maior e assustador. E por que eu digo isso? [O] que fazer com quem compartilha
pequenas ou grandes mentiras pelas redes e grupos? Quem começou a dizer que a
Fabiane de Jesus era a mulher que fazia magia negra? Como saber de quem parte
essa informação no WhatsApp? Ninguém foi preso no caso porque não se sabe quem
começou. [...]
CE: No livro
você usa a expressão “bolha”. O que entende por isso e por que diz da
necessidade de sair dela?
PF: Bolha são
as redes sociais e proponho uma reflexão sobre a necessidade de sairmos desse
espaço que te induz a compartilhar com os seus “iguais”. Sobretudo nesses
tempos de polarização, temos cada vez mais excluído os que pensam diferente de
nós, o que nos deixa em uma zona de conforto, mas também nos priva de uma leitura
de contexto. E a gente não tem ideia do perigo disso. As pessoas acabam se refugiando
naquilo que entendem ser igual a elas e com isso perdem embasamento e senso
crítico para o debate. Precisamos transitar mais pelos grupos divergentes, ver mensagens
de outros grupos, da grande mídia, porque, ainda que manipulado, o discurso dá
uma dimensão do que está acontecendo. Costumo dizer que até para criticar algo,
precisamos conhecer, entrar em contato, senão só reproduzimos a opinião
pasteurizada da bolha.
CE: Como o
sair da bolha se relaciona com o enfrentamento às fake news?
PF: Os
algoritmos são softwares e eles fortalecem as bolhas. Se você fala de
comida orgânica, só receberá anúncios e marcas desse tipo, aí entra no círculo.
Os produtores de fake news também compram perfis falsos para entrar nas
bolhas e oferecer discursos sob medida. Os algoritmos seguem as nossas pegadas
nessas redes para oferecer conteúdo. Então, se você é uma pessoa que transita,
é possível confundi-los e isso é benéfico a partir do momento que você não fica
na mão da plataforma, sai desse universo e consegue fazer outras leituras e
estabelecer diálogos.
CE: Em que
medida isso esbarra na educação?
PF: Dando o
exemplo do jornalismo, tem muitos veículos que se recusam a olhar esse tempo
dos algoritmos e aí ficam no seu quadrado e acabam perdendo relevância. É o
mesmo para as escolas. A gente tem a questão das fake news, das bolhas,
do bullying, de gênero, isso faz parte da vida dos jovens todos os dias.
Escolher deixar isso de fora é perder a chance de ajudá-los a sair da bolha, a
construir seu senso crítico e serem adultos mais críticos e éticos. Temos esse
papel social enquanto educadores, não consigo ver a sala de aula sem essa
função. [...]
FERRARI, Pollyana. [Entrevista cedida
a] Ana Luiza Basilio. Carta Capital, São Paulo, 17 abr. 2018. Disponível
em: http://www.cartaeducacao.com.br/entrevistas/como-sair-das-bolhas/. Acesso
em: 25 abr. 2022.
COMPREENSÃO
E INTERPRETAÇÃO
1. Um dos temas centrais
abordados na entrevista que você leu é o impacto das redes sociais sobre a
circulação, a qualidade e a quantidade das informações. Segundo o texto:
a) Qual é a
diferença entre as informações que circulam na grande mídia ou grande imprensa e
as que circulam nas redes sociais?
b) O que são
fake news?
2. Sobre as fake
news, responda, considerando o texto:
a) Como elas
nascem? Que interesses há por trás delas?
b) Por que elas
podem ser prejudiciais?
c) Por que é
difícil combatê-las?
d) Você conhece
alguma pessoa pública que já foi vítima de fake news? Você acha que desmentir
uma notícia falsa é uma atitude eficiente no combate ao problema das fake news em
geral?
3. Pesquise sobre “pós-verdade”.
a) O que é
pós-verdade? Que relação ela tem com as fake news?
b) Por que as
pessoas passam a acreditar na pós-verdade?
c) A
entrevistada afirma: “o dedo é mais rápido que o cérebro”. Explique essa
afirmação e comente de que modo esse comportamento contribui para a criação da
pós-verdade.
4. A pesquisadora lembra que determinada rede social reúne 2 bilhões de pessoas, número que corresponde a cerca de um terço da população mundial. Por que, segundo ela, a pós-verdade é preocupante, considerando-se esse universo de pessoas?
5. No livro Como
sair das bolhas, de autoria de Pollyana Ferrari, ela chama as redes sociais de
bolhas.
a) O que
caracteriza essas bolhas?
b) Explique a
relação existente entre as fake news, os algoritmos e as bolhas.
c) Explique a
relação entre as bolhas e a pós-verdade.
d) De acordo com
a pesquisadora, de que modo é possível sair das bolhas?
6. No final da
entrevista, a pesquisadora discute a relação entre as bolhas e a educação.
Segundo a pesquisadora, de que modo a educação pode contribuir para que o jovem
saia da bolha?
7. Como
conclusão deste estudo, copie no caderno os itens a seguir que apresentam
afirmações verdadeiras.
I. As fake news
decorrem do imediatismo das pessoas em replicar as informações que recebem, sem
questioná-las, seja por falta de senso crítico, seja porque essas informações
atendem ao seu desejo ou ao seu interesse.
II. A pós-verdade
é uma afirmação falsa ou conveniente, cuja origem está relacionada com crenças,
emoções, ideologias e interesses de grupos sociais.
III. A pós-verdade
é criada nas redes sociais e só tem poder devastador, segundo Pollyana Ferrari,
porque ajuda a formar as bolhas.
IV. Segundo
Pollyana Ferrari, a única forma de combater as fake news e a pós-verdade é
investir no desenvolvimento do senso crítico dos jovens e das pessoas em geral,
o que exige “sair das bolhas” e conhecer o diferente, isto é, ter contato com
outras fontes de informação e outras formas de pensar.
A
LINGUAGEM DO TEXTO
1. Observe estas
palavras do texto: fake, fake news, timeline.
a) Qual é a
origem dessas palavras?
b) Que palavras
da língua portuguesa equivalem a elas?
c) Levante
hipóteses: Por que a pesquisadora entrevistada preferiu usar esses
estrangeirismos a usar palavras do português?
d) Na sua
opinião, caso a autora tivesse empregado palavras do português, haveria
mudanças de sentido no texto?
2. Observe este
trecho do texto:
As
fake news sempre existiram. No
meu livro eu cito relatos e resumos de jornais fake desde Roma Antiga. [...] O que mudou é a questão da escala.
Com as redes sociais, basicamente as temos há 14 anos, todo mundo ganhou
voz.
A que termo anteriormente expresso se
refere o pronome as destacado no trecho: a fake news ou a redes
sociais? Justifique sua resposta.
3. Releia este
trecho do texto, observando as palavras em destaque:
Bolha são as redes sociais e
proponho uma reflexão sobre a necessidade de sairmos desse espaço que te induz
a compartilhar com os seus “iguais”.
a) Levante
hipóteses: O que justifica o emprego do verbo ser no plural, na forma são,
e não no singular?
b) No contexto,
a quem se refere o pronome oblíquo te: ao leitor, especificamente, ou
aos internautas em geral? Justifique sua resposta.
c) O que
justifica o emprego de aspas na palavra iguais?
TROCANDO
IDEIAS
1. Hoje em dia,
as pessoas em geral costumam usar a internet para fazer pesquisas. Embora
muitas vezes a internet possibilite o acesso a diversos resultados de pesquisa,
a quantidade não garante a qualidade dessas pesquisas: nem em questão de confiança
quanto às informações recebidas, nem em questão de fundamentação da pesquisa.
Você costuma procurar garantir que suas pesquisas na internet retornem
informações confiáveis e bem fundamentadas? Que fontes de pesquisa fora do
ambiente digital você costuma utilizar?
2. Na
entrevista, Pollyana Ferrari ressalta que os participantes de redes sociais
devem ter uma postura crítica e ética em relação às informações veiculadas. O
que é ter uma postura ética no mundo digital?
3. Você costuma
compartilhar postagens só depois de avaliar se o que recebe é ou não confiável?
Por quê?
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